domingo, 17 de janeiro de 2010

Relação entre novas tecnologias da informação e a teoria valor-trabalho

Relação entre novas tecnologias da informação e a teoria valor-trabalho


Para Henrique Amorim “as formas de exploração do trabalho continuam sendo as mesmas e não há necessariamente uma nova forma de organização da produção que altere, por conta da inserção de novas tecnologias, o processo de ampliação da produtividade como característica central da organização capitalista da produção”. Em entrevista, concedida por e-mail, o sociólogo analisa a relação e a influência do desenvolvimento das novas tecnologias no trabalho. Assim, ele trata de questões que cercam este tema, como a possível transição da sociedade industrial fordista para uma sociedade pós-industrial. Álias, ele discorda desta tese. “As teses que compõem a teoria dos novos movimentos sociais, das sociedades pós-industriais ou mesmo das sociedades pós-materialistas se constituem em resposta a essa leitura de sujeito e de luta política. Seu objetivo foi o de ampliar as formas de participação dos indivíduos ou grupos de indivíduos na cena política a outras esferas da sociedade”, argumentou.


Henrique Jose Domiciano Amorim é graduado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas, onde também realizou o mestrado em Sociologia e o doutorado em Ciências Sociais. Recebeu o título de pós-doutor da École des Hautes Études en Sciences Sociales e da Unicamp. Atualmente, é pesquisador da Unicamp. Escreveu Trabalho Imaterial: Marx e o Debate Contemporâneo (São Paulo: Annablume, 2009) e Teoria Social e Reducionismo Analítico: para uma crítica ao debate sobre a centralidade do trabalho (Caxias do Sul: Editora da Universidade Estadual de Caxias do Sul, 2006). Confira a entrevista.



IHU On-Line – Como o senhor caracteriza a ruptura da concepção de trabalho da sociedade industrial motivada pela mudança das forças produtivas, pelo surgimento de novas tecnologias e pela mudança na forma de organizar o trabalho?

Henrique Amorim – Não vejo como seria possível apontar para uma ruptura como essa. As formas de exploração do trabalho continuam sendo as mesmas e não há necessariamente uma nova forma de organização da produção que altere, por conta da inserção de novas tecnologias, o processo de ampliação da produtividade como característica central da organização capitalista da produção. O desenvolvimento das forças produtivas se apresenta como uma das características centrais dessa ampliação e, por conseguinte, do lucro capitalista. Exatamente por conta disso não é possível pensar em uma alteração estrutural das formas de obtenção do lucro via produção que sejam motivadas pelo desenvolvimento das forças produtivas. É bom que se frise que não há nada de neutro no desenvolvimento dessas forças. Elas têm como objetivo final atender às demandas do processo de valorização. Nesse sentido, toda a ciência e tecnologia, introduzidas no universo dos processos de trabalho, cumprem o papel não apenas econômico de valorização do capital, mas também político de ampliação do controle dos coletivos de trabalho.



IHU On-Line – O senhor concorda com a tese de que estamos transitando da sociedade industrial-fordista, para a sociedade pós-industrial?

Henrique Amorim – Não, não concordo. Creio que as teses sobre a passagem de uma sociedade de tipo industrial para a pós-industrial estão assentadas em um falso problema que acaba por caracterizar falsas respostas. Explico: As leituras que apontam para a constituição de uma sociedade pós-industrial, ou pós-materialista, ou mesmo uma sociedade de serviços, partem da crítica de uma concepção de trabalho e de classe trabalhadora particular, difundida, sobretudo, pelos partidos comunistas no mundo sob influência do partido comunista soviético. Essa concepção ortodoxa de trabalho que se desenvolve até a década de 1970 tem como característica central a indicação de que o trabalho imediato-industrial é o meio pelo qual toda luta política deve ser constituída e, por conseguinte, a tese segundo a qual a classe que ocupa tal posição na estrutura produtiva é o sujeito da revolução.

As teses que compõem a teoria dos novos movimentos sociais, das sociedades pós-industriais ou mesmo das sociedades pós-materialistas se constituem em resposta a essa leitura de sujeito e de luta política. Seu objetivo foi o de ampliar as formas de participação dos indivíduos ou grupos de indivíduos na cena política a outras esferas da sociedade. Não obstante, creio que apesar de hegemônica, essa leitura ortodoxa de um operariado como portador de uma “missão histórica” revolucionária é equivocada. Há, em outras tendências, dentro do marxismo mesmo, críticas à ideia de sujeito, e também à tese de que uma ou outra classe seria aquela a ser considerada a classe capaz, por essência, de realizar a revolução ou mesmo de realizar lutas sociais de cunho anticapitalista. Uma dessas correntes é a althusseriana, mas não somente ela. A literatura que se ergue em torno do rechaço da teoria das classes e da teoria do valor-trabalho de Marx tendo como mote as análises que se restringiram à fábrica como locus de toda a luta política, estão, assim, respondendo a uma parte, a meu ver, equivocada das análises sobre as classes sociais e sobre a possibilidade de construção de forças sociais dentro e fora das indústrias. Ao ter, como mencionei, um ponto de partida restrito, tendem a diagnosticar as possibilidades de intervenção política em direta oposição a ele. Se tais teses partem de um falso problema, acabam por construir, em oposição, falsas respostas.

Portanto, creio que a literatura marxista ortodoxa valeu-se de parâmetros físicos para compreender o que seria material ou não material na produção e no trabalho. Ela parece ter sido constituída sob a rubrica inversa às teses do marxismo ortodoxo até então. Reproduz-se uma oposição teoricamente ineficaz e não dialética entre material e imaterial como eixo explicativo de todo debate nos anos que se seguem. Uma oposição que parece, de um lado, estar presente em dicotomias enrijecidas como as de trabalho produtivo e improdutivo, de trabalho intelectual e manual, de classe operária e classe trabalhadora e, de outro, que estão expressas nos termos do trabalho cognitivo e trabalho manual, da sociedade do conhecimento e sociedade industrial, do capital imaterial e capital material.



IHU On-Line – O trabalho, o sujeito do trabalho e a subjetividade manifestada no trabalho passam por que tipos de mutações?

Henrique Amorim – A ideia de sujeito remonta a concepção de consciência de classe que pessoalmente tenho discordância. Da leitura que faço de Marx, não acredito poder afirmar a priori qual é o grupo de indivíduos mais aptos a fazer a revolução ou a enfrentar o Estado burguês. No escopo de uma definição ampliada de classe trabalhadora, até seria possível afirmar que estaria, dentro desse espectro, a constituição de forças sociais revolucionárias. No entanto, seria necessário, antes disso, precisar o que é uma classe social e se ela existe de fato. Do meu ponto de vista, existem relações de classe, e não uma classe social trabalhadora já constituída como força social, como uma força revolucionária ou anticapitalista. Existem sim relações de classe que remontam à composição da estrutura social. Não vejo, assim, como seria possível elencar critérios sociológicos ou empíricos que comprovassem a participação de indivíduos em uma ou outra classe.

Como nos sugere Bensaïd: “Marx (…) não procede quase por definição (por enumeração de critérios), mas por ‘determinação’ de conceitos (…) que tendem ao concreto, articulando-se no seio da totalidade. (…) A noção de classe, segundo Marx, não é redutível nem a um atributo de que seriam portadoras as unidades individuais que a compõem, nem a soma dessas unidades. Ela é algo diferente. Uma totalidade relacional e não uma simples soma”. Nesse sentido: “a realidade dinâmica das classes não cai nunca no domínio inerte da objetividade pura. Sua coesão é irredutível à unidade formal de uma simples coleção de indivíduos”. [1]

Nesse sentido, o trabalho constitui, entre outras atividades, uma forma de reprodução das relações sociais capitalistas. As mutações no trabalho devem ser entendidas dentro de um conjunto de relações sociais que reproduzem a dinâmica da exploração e da dominação do trabalhador pelo capital. Ter atenção para como essa exploração e dominação se acentuam é uma tarefa dos marxistas e dos partidos e movimentos sociais de esquerda. No entanto, projetar a constituição de forças sociais a partir dessas mutações seria, no mínino, ingenuidade.



IHU On-Line – Para muitos, a marca distintiva que caracteriza a sociedade pós-industrial é a emergência da economia do imaterial e do trabalho imaterial. Como o senhor definiria os conceitos de economia imaterial e trabalho imaterial?

Henrique Amorim – Creio que a tese central da formação de uma sociedade pós-industrial está ancorada em um falso problema. Este falso problema diz respeito, entre outras questões, à distinção entre trabalho material e trabalho imaterial. Não vejo como definir distintamente produção ou economia material de imaterial. Se o fizesse, estaria concordando com a ideia de que o material se forma por trabalhos com predominância manual e o imaterial de trabalhos com predominância intelectual. Estaria concordando também com a ideia de que o conteúdo do trabalho ou mesmo da mercadoria produzida informam a natureza do trabalho.

Para mim, essa separação não pode ser feita. A característica central de toda a produção capitalista deve ser pensada na forma como ela é organizada, e não na matéria física ou abstrata que é utilizada na produção de mercadoria. Não importa, dessa maneira, se estamos falando da produção de uma mercadoria conhecimento ou de uma mercadoria máquina, pelo contrário, o importante é analisar como, em que condições, sob que tipo de empreendimento, em que encontro de relações sociais o conhecimento e a máquina foram produzidos. Em termos gerais, ambos podem ter sido produzidos na forma de uma mercadoria capitalista: redução do tempo global de produção com aumento de produtividade, gerando com isso uma diferença para cima entre o capital inicial e o final, informada pelo pagamento de um salário que não expressa o tempo total gasto na produção.

Nestes termos, inferir que a qualificação profissional do trabalhador, a matéria-prima trabalhada, os recursos utilizados representam, informam e constituem as relações sociais que estruturam o processo de trabalho não impõem a designação de uma materialidade que determina o conjunto de relações sociais.



IHU On-Line – Na teoria marxista, o que determina o valor de uma mercadoria é a quantidade de trabalho despendido para produzi-la, mais especificamente, a média do tempo utilizado de acordo com o grau de desenvolvimento das forças produtivas. Como interpretar o conceito valor com a emergência do trabalho imaterial?

Henrique Amorim – Não há lógica em afirmar que a estrutura social pode ou será transformada com o desenvolvimento das forças produtivas envolvidas no processo de produção de mercadorias, já que tais forças produtivas, em última instância, são expressão de relações sociais de produção cristalizadas [2]. A materialidade é dada, então, pelo conjunto de relações sociais estabelecidas, e não pela fisicidade dos elementos ativos em um processo de trabalho. Falar em materialismo não é simplesmente indicar o caráter tangível das coisas, é muito mais que isso, trata-se de reconhecer as relações efetivas que constituem nossa existência sob um determinado conjunto de relações sociais.

A diferenciação, portanto, entre material e imaterial não se relaciona, nestes termos, ao valor de troca, ao trabalho abstrato, mas sim ao valor de uso, ao trabalho concreto. Portanto, só faz sentido diferenciar a materialidade e a imaterialidade do trabalho quanto ao conteúdo do trabalho e não quanto à produção do valor de troca, já que ele continua determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário à produção de mercadorias distintas. Material ou imaterial, a valorização do capital tem fundamento na relação de troca entre mercadorias, isto é, em sua forma, e não no conteúdo do trabalho empregado. Nesse sentido, não há diferença conceitual entre a produção material ou imaterial.

A produção de mais-valia, ou mais valor, não é caracterizada pela relação de transformação física dos objetos trabalhados. A teoria de Marx evidencia um conjunto específico de relações sociais que tem por característica central a produção de mercadorias sob um objetivo particular. O objetivo da produção capitalista não é produzir valor, mas sim produzir um número maior de mercadorias em um tempo cada vez mais reduzido. O valor-trabalho deve, então, ser considerado como um desdobramento das atividades e das relações sociais que engendram a produção capitalista. A discussão sobre a materialidade e a imaterialidade do trabalho pode ser relacionada muito mais à especificidade da produção capitalista, ou seja, ao objetivo de valorização do capital baseado na ampliação das mercadorias produzidas. Isto é, quanto maior for a produção (em um tempo menor), maior será a mais-valia relativa constitutiva do conjunto de mercadorias. As relações sociais que dão base e garantem essa empreitada sequer se valem da natureza física das coisas.



IHU On-Line – No trabalho imaterial, o tempo de trabalho já não é necessariamente medido, pois tempo de trabalho e tempo de não trabalho confundem-se, sua linha divisória é tênue. Nesse sentido, como fica o conceito clássico de mais-valia?

Henrique Amorim – Marx definiu, em O Capital, o valor de troca como a expressão fenomênica do valor que é agregado à mercadoria com base na exploração do trabalho; no tempo médio de trabalho socialmente necessário para a produção da mercadoria. Assim, a medida do valor para Marx é o tempo de trabalho despendido na produção, é a utilização da força de trabalho na produção medida em unidades de tempo, sendo que esse valor é fruto das necessidades humanas, sejam elas originadas do estômago ou da fantasia [3]. Portanto, Marx desenvolve a teoria do valor-trabalho como uma teoria da exploração do trabalho. Fundamenta-se, dessa forma, uma análise social que consagra a produção de mercadorias (materiais ou não) como seu objeto científico central e o trabalho abstrato como elemento decisivo para a valorização do capital.

A constituição do valor de troca e, posteriormente, do dinheiro como equivalente geral e mercadoria específica são os elementos que constituem a base do raciocínio de Marx sobre o processo de exploração do trabalho com o objetivo de ampliação da mais-valia relativa com base na redução do tempo de trabalho necessário e aumento da produtividade. O trabalho abstrato é caracterizado, assim, como um trabalho em geral que expressa quantidades diferentes de valores de troca das mercadorias, tornando-as socialmente intercambiáveis, portanto, um regulador das trocas de mercadorias distintas, isto é, com diferentes quantidades de tempo médio socialmente necessário para a sua produção.

Se a relação social central nas sociedades capitalistas fundamenta-se pela produção de mercadorias, e essas mercadorias se constituem pela relação de exploração, baseada na extração de mais trabalho, produtivo é todo aquele trabalho ou coletivo de trabalho que esteja subordinado a essa relação, que tem como objetivo reproduzir as relações sociais que dão base à produção de valores de troca. É possível, ademais, admitirmos que o núcleo de extração de mais trabalho ainda hoje esteja vinculado à produção fabril. No entanto, isso não indica que a produção de coisas físicas é a única a produzir mais-valia.



IHU On-Line – Em suas pesquisas e entrevistas com intelectuais franceses sobre a relação entre as novas tecnologias da informação e a teoria do valor-trabalho, a que conclusões o senhor chegou?

Henrique Amorim – O interessante de fazer um estudo como esse e fundamentá-lo em opiniões diversas é que as conclusões tornam-se cada vez mais provisórias. Isso não interfere, no entanto, nas possibilidades e na necessidade de avançarmos algumas hipóteses. Muitas delas foram desenvolvidas ao longo das questões anteriores.



1. A ideia de que as classes sociais são e não são existentes e que se formam em momentos esparsos como forças sociais revolucionárias ou anticapitalistas e também de que elas não podem ser pensadas como um enumerado de indivíduos que são colocados dentro ou fora dela de acordo com critérios empíricos arbitrariamente levantados é uma importante conclusão.



2. Que a materialidade do trabalho e da produção não está vinculada ao conteúdo do trabalho ou das qualificações que o trabalhador encerra. A materialidade está vinculada ao conjunto de relações sociais que informam uma prática social que passa pela organização do processo de produção como elemento de constituição de um modo de vida específico. A organização da produção é, portanto, a cristalização de relações sociais e como tal não pode ser pensada com base no caráter físico das matérias envolvidas. A imaterialidade do produto ou da qualificação profissional que é utilizada tem a ver apenas com o trabalho concreto, com a utilidade do produto, mas nunca com o trabalho abstrato, ou seja, não tem a ver com a formação de mais-valor. Nesse sentido, a informação como uma mercadoria deve ser considerada dentro do universo da produção de valor estrito senso já que está sob a mesma lógica que informa a produção de mercadorias da indústria tradicional. Entre muitas questões que ainda estou trabalhando, vejo como central a análise da teoria do valor-trabalho como uma teoria heurística, ou seja, ela, como também a teoria das classes de Marx, não podem ser pensadas com base em uma comprovação empírica. Não é possível dizer, portanto, quanto de valor existe em uma mercadoria, como também não é possível dizer quantos indivíduos compõem uma classe social. A teoria do valor-trabalho de Marx não pode ser considerada uma teoria aritmética. Ela é uma ferramenta de análise que não se confunde com a própria realidade observada, mesmo que seja por essa última dialeticamente constituída.



Notas:

[1] Daniel Bensaïd. Marx, O Intempestivo: Grandezas e Misérias de uma aventura crítica (séculos XIX e XX). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999, pp. 143, 147 e 149 respectivamente.

[2] Para Bihr (2001, p. 57, tomo I), “(…) As forças produtivas constituem em conjunto o conteúdo ao mesmo tempo material e social das relações de produção”.

[3] Karl Marx. O Capital. Rio de Janeiro. Nova cultural, 1988, p. 45.

(IHU On-line)
OEA condena Brasil por assassinato de sem-terra

A Organização dos Estados Americanos (OEA) considerou o Brasil culpado por não responsabilizar os envolvidos no assassinato do trabalhador rural Sétimo Garibaldi, morto em 1998 durante um despejo ilegal promovido por pistoleiros no acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Querência do Norte (PR). Para a OEA, o caso expõe a conivência do judiciário brasileiro com a violência no campo e a falta de compromisso em combater as milícias chefiadas por fazendeiros. Essa é a terceira vez em que o Estado brasileiro é condenado na Corte Interamericana de Direitos Humanos e a segunda envolvendo crimes contra trabalhadores sem-terra no Paraná. (fonte: MST)



CPT sul e sudeste do Pará divulga Nota Pública

A Comissão Pastoral da Terra sul e sudeste do Pará divulgou a Nota Pública ”Truculência e despreparo da polícia do Pará quase causa novo massacre em Eldorado dos Carajás”, na qual denuncia a ação das Polícias Militar e Civil contra os trabalhadores sem-terra, em manifestação na Curva do S, local onde ocorreu o massacre em 1996. O fato em questão ocorreu no último dia 7, quando mais de mil trabalhadores ligados ao MST realizavam uma manifestação pacífica. Cerca de 70 policias do batalhão de choque, juntamente com o coronel Leitão, da Polícia Militar, e o Delegado Geral da Polícia Civil, Raimundo Benassuly, foram encaminhados para a área com a finalidade de desinterditar a rodovia PA 150, já liberada antes da chegada dos policiais. Durante a ação, três manifestantes foram presos de forma arbitrária, os policiais ameaçaram os sem-terra e incitaram um confronto. A Nota Pública pode ser acessada no site da CPT (http://www.cptnacional.org.br). (fonte: CPT Nacional)



MST promove Jornada de Lutas no Pará

O MST do Pará iniciou uma Jornada de Lutas, no dia 4 de novembro, contra a lentidão nos processos de Reforma Agrária, exigindo o assentamento das duas mil famílias acampadas no Estado e obras de infraestrutura nos assentamentos existentes. As atividades seguem até o dia 13 de outubro. A Jornada de Lutas também denuncia a existência de milícias armadas nos latifúndios e exige a desapropriação de terras griladas. As principais manifestações foram na fazenda Maria Bonita, do grupo Santa Bárbara, de propriedade do banqueiro Daniel Dantas, e na Fazenda Rio Vermelho do qrupo Quagliato. A imprensa mostrou a destruição de casas e de bens das fazendas, mas o MST nega ter praticado tais ações. Dentro da Jornada é que houve a manifestação na Curva do S, em Eldorado do Carajás, onde se deu a ação truculenta da polícia do Pará. (fonte: MST e CPT)



CPT participa de audiência na OEA

Em audiência na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão da OEA, no dia 5 de novembro, em Washington, a Comissão Pastoral da Terra, o MST e o Centro pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil) denunciaram o controle de terras no Brasil, a escravidão e a violência institucional nos centros penitenciários. Na audiência, a representante da CPT, Jean Ann Bellini, relatou que a violência no campo continua crescendo, impulsionada por três fatores: a exploração do trabalho em condições análogas à escravidão, a repressão na luta pela terra e violência contra as comunidades indígenas e descendentes de escravos. (fonte: MST e agência EFE)



PEC da alimentação é aprovada no Congresso

A Proposta de Emenda Constitucional que inclui a alimentação entre os direitos sociais garantidos pela Constituição Federal foi aprovada em primeiro turno pelo plenário da Câmara dos Deputados, no dia 3 de novembro. A matéria, aprovada por 374 votos a 2, ainda precisa ser votada em segundo turno. A inclusão do direito à alimentação atende a tratados internacionais aos quais o Brasil aderiu, garantindo que ações de combate à fome e à miséria se tornem políticas de Estado. (fonte: Agência Câmara)



Criado o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo

Foi criado o Dia Nacional e Semana Nacional de Combate ao Trabalho Escravo. A lei foi sancionada pelo presidente da República em exercício, José Alencar, e publicada no Diário Oficial da União de 30 de outubro. O dia será comemorado em 28 de janeiro, em homenagem aos três auditores fiscais e um motorista do Ministério do Trabalho, assassinados em 2004, durante vistoria em fazendas na zona rural de Unaí (MG). (fonte: Agência Brasil)



Ibama aplica multa de R$ 1 milhão na Usina Trapiche

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) aplicou multa de R$ 1 milhão por crimes ambientais cometidos pela Usina Trapiche, localizada no município de Sirinhaém (PE). Após as denúncias encaminhadas pela CPT e pela ONG Terra de Direitos, no dia 29 de outubro, o Instituto constatou que a usina lança água usada em lavagem industrial da cana de açúcar no rio Sirinhaém e em seus afluentes. A empresa possui equipamento para o tratamento da água, mas não o utiliza e joga o material não tratado nos rios. (fonte: CPT Nordeste II e Radioagência NP)



Festa no litoral norte marca 25 anos da CPT Alagoas

Trabalhadores e trabalhadoras rurais do litoral norte de Alagoas festejaram no dia 29 de outubro, os 25 anos da Comissão Pastoral da Terra no estado. A comemoração iniciou com uma missa de ação de graças em São Miguel dos Milagres e seguiu com uma caminhada de seis quilômetros pelas ruas da cidade, onde os camponeses conversaram com a população sobre questões rurais, e depois realizaram um almoço coletivo. Durante a atividade houve entrega de panfletos, música e pronunciamentos sobre a trajetória da CPT Alagoas. (fonte: CPT Alagoas)



Inauguração de monumento em homenagem a Keno

No dia 14 de novembro será inaugurado o Monumento Keno Vive, no Centro de Produção de Sementes Agroecológicas da Agricultura Familiar Camponesa, em Santa Tereza D’Oeste (PR). Keno foi assassinado em 2007 no Centro Experimental da Syngenta e devido à repercussão mundial de sua morte, 127 hectares da área onde ocorreu o conflito foram doados para o Estado, onde foi construído o Centro de Produção de Sementes. (fonte: Via Campesina)



Justiça proíbe plantio de eucaliptos em Piquete

Uma decisão da Justiça suspendeu o plantio e o replantio de eucaliptos, assim como a aplicação de herbicidas, nos eucaliptos plantados nas áreas do município de Piquete (SP). A juíza Kátia Barroso exigiu que as empresas Nobrecel Celulose e Monsanto Brasil cumpram a lei e realizem estudos sobre os impactos sócio-ambientais da monocultura. A ação foi um pedido da sociedade civil e da defesa ambiental da região, que reclamam da contaminação gravíssima na zona rural de Piquete, com o manejo indevido de toneladas de um herbicida à base de glifosato. O herbicida provoca a morte de peixes, porcos, galinhas e pomares. (fonte: Radioagência NP)



Congresso debate cultura ribeirinha

O 3º Congresso dos Ribeirinhos e Ribeirinhas das Ilhas e Várzeas de Abaetetuba foi realizado no porto Panacarica, na ilha Campompema, em Abaetetuba (PA), nos dias 7 e 8 de novembro. Durante o evento, a Comissão Pastoral da Terra região Guajarina lançou o segundo livro sobre revitalização identitária dos povos ribeirinhos da região. A publicação é fruto de pesquisas feitas pelos ribeirinhos, sob coordenação da CPT, e resgata as características, valores, lendas e o linguajar dos ribeirinhos das ilhas de Abaetetuba. (fonte: CPT Guajarina)



Romaria da Terra da Paraíba é realizada

Aproximadamente cinco mil pessoas participaram da 21ª Romaria da Terra da Paraíba, realizada nos dias 7 e 8 de novembro, em Sapé, com o tema “Vida, Liberdade e Pão: queremos terra sem concentração”. A Romaria é organizada desde 1988 pela Arquidiocese do estado e pela CPT, e nesse ano debateu a importância da Reforma Agrária e a campanha pelo limite da propriedade. Uma feira da Reforma Agrária comercializou produtos agroecológicos produzidos em 13 assentamentos da região. (fonte: CPT Nordeste II)



Dois indígenas Kaiowá Guarani estão desaparecidos

Os professores indígenas Kaiowá Guarani, Olindo Verá e Genivaldo Verá, estão desaparecidos desde o dia 30 de outubro. Um grupo de 25 indígenas Kaiowá Guarani voltou ao seu território tradicional, na aldeia Pirajuí, próximo a Paranhos (MS), no dia 29 de outubro, e no dia seguinte foi atacado por pistoleiros. Todos os indígenas foram feridos no conflito e desde então os dois professores estão desaparecidos. Houve rumores de que os corpos haviam sido encontrados, mas a informação não foi confirmada. (fonte: Cimi)
ebate: Crise do capital e perspectivas do socialismo


com Perry Anderson, Emir Sader e Flávio Aguiar mediação de Ruy Braga



Dia 17/11/2009, terça-feira, às 19h

Auditorio de Cultura japonesa da USP

Av. Prof. Lineu Prestes, 159, Cidade Universitária - São Paulo - SP



A Universidade de São Paulo receberá na próxima semana o historiador Perry Anderson. Promovido pela Boitempo Editorial e por Clacso, Cenedic e Programa de Pós-graduação em Sociologia da USP, o debate "Crise do capital e perspectivas do socialismo" acontecerá na terça-feira dia 17 de novembro, às 19h. Além de Perry Anderson, o debate contará com a participação de Emir Sader, do professor de literatura e jornalista Flávio Aguiar e do sociólogo Ruy Braga. A entrada é gratuita e não será necessário fazer inscrição prévia.



Perry Anderson nasceu em Londres, em 1938. É professor de história da UCLA, Estados Unidos, ex-editor da revista New Left Review e autor de vários livros publicados no Brasil, entre os quais Afinidades Seletivas (2002) e Considerações sobre o marxismo ocidental/ Nas trilhas do materialismo histórico (2004), lançados pela Boitempo. Seu próximo livro a ser publicado pela Boitempo, em 2010, será Spectrum.



Emir Sader nasceu em São Paulo, em 1943. Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, é cientista político e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). É secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e coordenador-geral do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Autor de vários livros, publicou pela Boitempo os títulos A vingança da história (2003), A nova toupeira (2009), entre outros.



Flávio Aguiar nasceu em Porto Alegre (RS), em 1947. É professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo desde 1973 e, atualmente, vive em Berlim. É também jornalista e autor, entre outras obras, do livro Anita (1999) e A palavra no purgatório (1997), além de organizador, em parceria com Og Doria, da antologia A escola e a letra (2009).



Ruy Braga é professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo e diretor do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania da USP (Cenendic). É autor de, entre outros livros, Por uma sociologia pública (com Michael Burawoy) (São Paulo, Alameda, 2009) e A nostalgia do fordismo: modernização e crise na teoria da sociedade salarial (São Paulo, Xamã, 2003) e organizador, ao lado de Ricardo Antunes, do livro Infoproletários, recém-lançado pela Boitempo.



Serviço:

Crise do capital e perspectivas do socialismo

Debate com: Perry Anderson, Emir Sader, Flávio Aguiar e Ruy Braga

Promoção: Boitempo, Clacso, Cenedic e Programa de Pós-graduação em Sociologia da USP

Dia 17/11, no Auditorio de Cultura japonesa da USP (Av. Prof. Lineu Prestes, 159, Cidade Universitária), às 19h. Mais informações pelo telefone (11) 3875 7285.

Entrada gratuita
João Alexandre Peschanski *


FONTE: Brasil de Fato



Em entrevista ao Brasil de Fato, o filósofo húngaro István Mészáros alerta sobre as perversidades do capitalismo contemporâneo.



O mundo está preso a uma espiral destrutiva, a lógica do capital, que pode causar seu desaparecimento. Destrói-se a natureza, pensando que se está estimulando a produção de mercadorias necessárias para o bem-estar humano. Justificam-se ataques militares, que geram massacres, como se fossem as únicas formas de deter a violência. Tais anomalias não revoltam a maioria da população, pois estão encobertas em uma capa que turva sua compreensão. Esta, de acordo com o filósofo húngaro István Mészáros, se chama alienação. “É a perda de controle sobre as atividades humanas que poderíamos e deveríamos controlar”, diz. Mészáros esteve em São Paulo para o relançamento de seu livro A teoria da alienação em Marx (Boitempo Editorial, 2006), quando concedeu uma entrevista ao Brasil de Fato. Falou sobre os aspectos mais perversos do capitalismo e da lógica do capital, fenômenos que insiste em diferenciar. Explicou que, onde há alienação, estão os elementos que podem derrocar a dominação do povo. O alimento das práticas de transformação social é a educação. “É preciso recuperar o sentido da educação, que é conhecer-se a si mesmo, aprender por diferentes meios. O pensamento crítico precisa ser desenvolvido pelo povo, pois só ele tem a força de se libertar”, diz.



Brasil de Fato - Em A teoria da alienação em Marx, o senhor afirma que se tornou uma necessidade histórica problematizar o conceito de alienação. Por quê?

István Mészáros - A sobrevivência da humanidade está ameaçada, não só em razão da potência militar de alguns países, mas também em virtude da devastação da natureza. Precisamos modificar, radicalmente, nosso modo de vida ou desapareceremos. Chegamos a esse ponto porque há um poder, do qual estamos alienado, que controla o sistema social, em vez de nós mesmos dirigirmos nosso destino. Poderosos interesses econômicos determinam o modo como devemos nos relacionar com a natureza, nos levando à nossa própria destruição. Na ECO-92, encontro internacional realizado no Rio de Janeiro em 1992, várias promessas foram enunciadas por governos, incluindo o estadunidense, para deter a devastação ambiental. Mas elas são descumpridas, quando o presidente George W. Bush deixa de assinar o Protocolo de Kyoto, apesar de reconhecer que os Estados Unidos são responsáveis por um quarto dos danos à natureza. A devastação é irreversível.



BF - O capitalismo contemporâneo funciona na lógica da produção destrutiva. As máquinas do sistema não páram, mas seu funcionamento é perverso, pois exaurem o planeta.

Mészáros - Os Estados Unidos assumem um papel determinante no direcionamento do poder alienado que dirige os destinos da população mundial. A maioria dos outros países não é melhor, mas não consegue competir com o império. Ao mesmo tempo, a condição de superpotência dos EUA é paradoxal, pois o país passa por grandes dificuldades econômicas, manifestadas pela existência de uma dívida catastrófica, que não tem como ser quitada. Os juros só são pagos com dinheiro extraído de outros países, por meio de acordos de comércio injustos ou intervenções militares. Antes, o capitalismo se orgulhava de ser uma destruição produtiva, mas sua manifestação imperialista se sustenta na lógica da produção destrutiva. A alienação, absolutamente dominante, é o alicerce dessa lógica perversa.



BF - Por que decidiu basear sua análise em Os manuscritos econômico-filosóficos, do pensador Karl Marx, de 1844?

Mészáros - Essa obra representa o momento da maturação da teoria do capital que Marx vai apresentar em outros textos, como O capital. Ele dizia que o mundo estava caminhando para a capacidade de se autodestruir. Hoje temos poderio militar para nos destruir mais de mil vezes. Há algumas décadas, quando Estados Unidos e União Soviética disputavam a hegemonia mundial, falava-se na teoria da destruição mútua assegurada. O poderio nuclear das duas potências mantinha um certo equilíbrio planetário. Hoje, pelo menos uma dúzia de países têm armas nucleares e a possibilidade de um confronto com bombas atômicas não é descartável. Além disso, outros armamentos, principalmente químicos, põem em risco a humanidade. Teóricos do Pentágono, que não posso chamar de outra coisa senão de loucos, defendem o uso de armas de destruição em massa contra países que resistem à dominação total dos Estados Unidos. O resultado de pensamentos como esse é a situação do Iraque, onde mais de 100 mil pessoas já morreram. A insanidade, com base na influência do Pentágono, se tornou a lógica dominante das relações internacionais.



BF - Como o senhor define alienação?

Mészáros - É a perda de controle sobre as atividades humanas que poderíamos e deveríamos controlar. O sistema social é uma construção humana e deveria ser controlado pelos homens, mas está longe de nós, fora de nosso alcance, está alienado. Está, algumas vezes, usurpado.



BF - Como fazer esse controle?

Mészáros - Não tem como ser controlado sob a hegemonia do poder do capital. A alienação não é algo mágico, que cai do céu, mas é parte fundamental do que chamo metabolismo social de humanidade. A alienação é um tipo de controlador do capital, que não se preocupa com o destino do planeta, mas com sua própria reprodução, infinita. A ironia da humanidade é que conseguiu desenvolver instrumentos suficientes para manter-se, para que todos tenham o que comer, mas são usados para estimular uma realidade destrutiva. A lógica do capital é estimular a alienação, pois faz com que a população aceite esse paradoxo. A alienação leva à racionalização da insanidade, o que cria a ilusão de ser a ordem correta das coisas. É o modo como se gera a ideologia dominante. Quando a invasão do Iraque começou, a justificativa era a existência de armas de destruição em massa. Três anos depois, vemos massacres, ruínas, sofrimento, mas nada do tal armamento. Essa incongruência foi racionalizada, impedindo que levasse à revolta dos que acreditaram nas justificativas do governo estadunidense. Mesmo assim, a alienação também está no fato de se acreditar que os problemas da humanidade podem ser resolvidos com violência. A mudança dessa dominação, que coloca em risco a sobrevivência do planeta, depende de uma ação revolucionária que vá além da lógica do capital. Dois elementos podem gerar essa ação revolucionária: a defesa da natureza e a resistência ao belicismo.



BF - Em Os manuscritos, Marx fala em diferentes formas de alienação, mas destaca a dos homens em relação a eles mesmos e seus pares. Como pensar em uma ação revolucionária, se estamos dispersos e atomizados?

Mészáros - A lógica do capital força uma competição destrutiva dos humanos. A competição, em si, não é ruim. Pode levar à superação de limites e até a novas formas de cooperação. Hoje, a competição é antagônica: alguém tem sempre que ser destruído. Gera uma onda de medo, o que serve de suporte para governos autoritários. A base de nossa vida social, a produção e a reprodução das condições de nossa sobrevivência, fica fora de nosso controle. Aqui, mais uma vez, está a alienação. A própria noção de economia, fundamental para nossa vida, é desvirtuada. Antes, queria dizer poupar. Hoje, é consumir, ao último nível possível. Quebrar a alienação é repor as definições históricas juntas, mostrando a trajetória do conhecimento de cada conceito e prática.



BF - A União Soviética, a China e a Iugoslávia, países que reivindicaram o comunismo, não se preocuparam mais do que os capitalistas com a natureza.

Mészáros - Nunca tivemos países realmente comunistas. Esses três países desafiaram, de fato, o capitalismo, mas nunca se desvencilharam do poder do capital. Encontraram outras formas de fazê-lo existir. Um dos países que mais devastou o ambiente foi a União Soviética, que poluiu territórios imensos. A construção do socialismo não pode se desligar da preocupação com a ecologia, base de nossa sobrevivência. A questão não é só derrubar o capitalismo ou os Estados capitalistas, que podem até ser facilmente derrubados, mas criar um novo poder, que enfrente a lógica do capital. A União Soviética é prova de que os Estados capitalistas podem ser derrubados e, depois, restaurados. A raiz do problema não é o capitalismo - um sistema recente dentro da história da humanidade - mas a lógica do capital. Os países citados se diziam comunistas, mas mantiveram a lógica da produção destrutiva. Pensavam que tinham que produzir mais do que os Estados Unidos, controlar mais áreas de influência. Seguiram, na verdade, a mesma lógica. Não foram buscar os sentidos originais dos conceitos e conhecimentos, como a definição antiga de economia ou as contradições apontadas por Marx. Reinterpretaram a alienação, mas mantiveram-na como lógica dominante.



BF - O grande desafio da humanidade é desenvolver uma cultura crítica, no sentido político do termo, em relação às práticas sociais, atualmente alienadas.

Mészáros - Não basta manter a crítica em sua cabeça ou para um círculo fechado, é preciso fazer a ponte com a realidade. A crítica tem que ser o alimento para organizar um movimento de massa para transformar a lógica do capital. Isso exige que as pessoas críticas assumam a responsabilidade de mudar os rumos. Mas como isso é possível se apenas alguns estão no comando político e outros estão excluídos das decisões? Como esperar que as pessoas assumam a responsabilidade pelas decisões se nunca fizeram isso, nem acham que sabem como fazer?



BF - A própria noção de que alguns sabem e outros têm que ser comandados é ideológica. A alienação mantém essa visão, que gera pessoas inseguras, fáceis de manipular.

Mészáros - Não se pode perder de vista a necessidade do confronto. Os excluídos têm que questionar a razão de sua exclusão. Daí, vão chegar à conclusão de que não há nada que a justifique.



BF - Como se dá essa tomada de consciência?

Mészáros - Não pode se dar simplesmente por um grupo de intelectuais. O pensamento crítico precisa estar ao alcance de e ser desenvolvido por uma massa de pessoas. O problema é que, desde a mais tenra idade, nas escolas, as pessoas são ensinadas a ser pacatas. Muitas pessoas nem têm acesso à educação formal. Formas alternativas de educação devem ser desenvolvidas pelo povo. É preciso recuperar o sentido da educação, que é se conhecer a si mesmo, aprender por diferentes meios, criativos e alternativos. O pensamento crítico precisa ser desenvolvido pelo povo, pois só ele tem a força de se libertar. Não há fórmula mágica, além da necessidade de estimular a criatividade que a alienação tenta destruir.



BF - Marx diz que é preciso buscar o ponto de contradição do sistema, pois só nele está a chave para a emancipação. O senhor está dizendo que é preciso desmistificar os mecanismos de alienação?

Mészáros - A alienação só pode ser vencida com educação. Há uma relação dialética, é claro. Não se acaba com a alienação simplesmente passando uma lei: a alienação está proibida. Isso gera mais alienação. A educação precisa ser orientada para uma humanidade sustentável. É uma pedagogia com clara intenção política, a de libertar o povo, mas não é dogmática, pois emana do próprio povo. Ressalto que essa educação é emergencial. É preciso assumir a responsabilidade sobre a transformação dessa perspectiva, não tão distante, de um mundo prestes a desaparecer. O primeiro passo é parar a competição destrutiva e estimular uma interação positiva entre os homens.





João Alexandre Peschanski, periodista de Brasil de Fato, enviado especial a Puerto Príncipe (Haití)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Apresentação

Oi!
Sou Alex Oliveira, mais conhecido pelos meus amigos como Alex Gamboa. A finalidade deste blog é desenvolver uma certa comunicação na busca de conhecimentos nas áreas de História, Filosofia, Artes, Geigrafia, Sociologia, Música, enfim tratar de conhecimentos na esfera das ciências humanas. Trazer à tona notícias, informações, críticas, etc. no campo destas ciências. Você é um convidado especial a tratar deste desenvolvimento. Nosso interesse é entender as várias facetas da condição de ser humano e suas ações no tempo. O presente num "eterno"(enquanto dure) diálogo com o passado. Queremos trazer pesquisas, ensaios, músicas, poesias... as diversas fontes, de caráter científico ou lúdico, para este blog. Como já dissemos acima, este espaço lida com a busca de conhecimentos humanos. Esperamos sempre a sua visita. Volte sempre!